O setor de varejo na bolsa de valores brasileira tem sido uma verdadeira montanha-russa para os investidores. Após anos de desafios impostos por juros altos, inflação persistente e a ascensão avassaladora da concorrência internacional, muitas das gigantes do setor viram o valor de suas ações despencar. No entanto, o cenário macroeconômico de 2025 começa a soprar ventos mais favoráveis, abrindo uma janela de oportunidade única para quem busca investir em empresas de qualidade a preços descontados. A pergunta de um milhão de dólares agora é: quais cavalos apostar nesta corrida pela recuperação?
Vamos analisar o contexto, os gatilhos para a recuperação e apresentar um Top 5 de ações de varejo com grande potencial de virada de jogo no segundo semestre de 2025 e início de 2026.
Por que o Varejo Sofreu Tanto? Entendendo a Tempestade Perfeita

Para enxergar o potencial de recuperação, primeiro precisamos entender as razões da queda. O varejo brasileiro, especialmente o de bens duráveis e vestuário, enfrentou uma “tempestade perfeita” nos últimos anos, impactado por três fatores principais:
- Macroeconomia Desafiadora: A taxa Selic em patamares elevados para conter a inflação tornou o crédito mais caro e desestimulou o consumo parcelado, que é o motor do varejo. Com menos poder de compra e financiamentos mais custosos, o consumidor adiou a troca de celular, a compra de uma geladeira nova ou a renovação do guarda-roupa.
- Concorrência Asiática Agressiva: Gigantes do e-commerce como Shein, Shopee e AliExpress revolucionaram o mercado com preços extremamente competitivos, pressionando as margens de lucro das empresas nacionais e forçando uma readequação de estratégias.
- Endividamento das Famílias: O endividamento recorde da população brasileira limitou a capacidade de consumo, direcionando o orçamento familiar para despesas essenciais em detrimento de compras discricionárias.
Agora, com a perspectiva de um ciclo contínuo de queda da taxa Selic e uma inflação mais controlada, o humor do mercado começa a mudar, e é nesse novo cenário que nossas apostas de recuperação se baseiam.
Os Gatilhos da Virada: O que Pode Impulsionar as Ações de Varejo?
A tese de investimento em uma recuperação do varejo se ancora em alguns catalisadores importantes que devem ganhar força nos próximos meses:
- Queda da Taxa Selic: A redução dos juros pelo Banco Central tem um efeito duplo: torna o crédito mais barato para o consumidor final e reduz as despesas financeiras das próprias empresas varejistas, que muitas vezes são endividadas.
- Melhora da Renda e Confiança: Com a inflação sob controle, o poder de compra das famílias tende a se recuperar gradualmente. A melhora nos índices de confiança do consumidor é um forte indicativo de que as pessoas estão mais dispostas a gastar.
- Reorganização Estratégica: As empresas que “sobreviveram” à crise foram forçadas a se reinventar. Elas otimizaram estoques, fecharam lojas não lucrativas, fortaleceram seus canais digitais (omnichannel) e ajustaram suas operações para se tornarem mais eficientes.
- Valuation Atrativo: Muitas dessas ações estão sendo negociadas a múltiplos (preço/lucro, por exemplo) bem abaixo de suas médias históricas. Isso significa que, para o investidor de longo prazo, pode ser um ponto de entrada interessante para comprar ativos de qualidade com um grande desconto.
Top 5 Ações de Varejo para Ficar de Olho na B3 em 2025
Com base nesse cenário, selecionamos 5 empresas de diferentes segmentos do varejo que, por suas características e posicionamento de mercado, apresentam um forte potencial de recuperação.
1. Magazine Luiza (MGLU3): A Gigante do E-commerce em Ponto de Inflexão?

O Magazine Luiza foi, talvez, o maior símbolo da ascensão e queda do varejo na bolsa. Após uma valorização estratosférica, a ação sofreu uma correção brutal. No entanto, ignorar a força da Magalu seria um erro.
- Por que pode se recuperar? A empresa possui uma das logísticas mais eficientes do país, uma marca extremamente forte e um ecossistema completo que vai muito além da venda de produtos, incluindo serviços financeiros (Fintech Magalu), marketplace com milhares de vendedores e uma robusta operação omnichannel. Com a queda dos juros, a venda de eletrodomésticos e eletrônicos (seu carro-chefe) é diretamente beneficiada. A empresa também realizou ajustes operacionais importantes para focar em rentabilidade.
- Pontos de Atenção: A alta competição no e-commerce continua sendo o principal desafio. O investidor deve monitorar de perto a evolução das margens de lucro e a capacidade da empresa de voltar a crescer de forma rentável.
2. Lojas Renner (LREN3): A Resiliência da Rainha do Varejo de Moda

A Renner é uma das varejistas mais bem geridas do Brasil, mas não passou imune à concorrência asiática e à queda no poder de compra. Suas ações, que sempre foram negociadas a múltiplos premium, amargaram quedas expressivas.
- Por que pode se recuperar? A força da marca Renner é inegável. A empresa tem uma base de clientes fiel, lojas em pontos estratégicos e uma operação omnichannel madura. Seu braço financeiro, a Realize, se beneficia da queda dos juros. Além disso, a Renner é uma líder em práticas ESG, o que atrai investidores institucionais. Com a retomada da confiança do consumidor, a tendência é que o cliente volte a buscar a qualidade e a experiência de compra que a Renner oferece.
- Pontos de Atenção: O principal desafio é continuar competitiva frente ao “fast fashion” internacional. A capacidade da empresa de ajustar suas coleções rapidamente e manter sua proposta de valor será crucial.
3. Grupo Soma (SOMA3): O Luxo Acessível e as Marcas do Desejo

Dono de marcas icônicas como Farm, Animale, Hering e Farm Global, o Grupo Soma atua em um nicho de maior valor agregado, o que lhe confere uma certa proteção contra a concorrência de baixo preço.
- Por que pode se recuperar? A estratégia de crescimento da Hering, que está sendo revitalizada pelo grupo, tem um potencial enorme. A expansão internacional da Farm continua a todo vapor, trazendo receitas em dólar e diversificando o negócio. As marcas do Grupo Soma possuem um público fiel e com maior poder aquisitivo, que tende a ser menos impactado por crises econômicas. A empresa demonstrou grande habilidade em integrar as marcas que adquire, gerando sinergias e eficiência.
- Pontos de Atenção: O sucesso da estratégia de “turnaround” da Hering é fundamental para a tese de investimento. O investidor deve acompanhar os resultados dessa integração e o desempenho da expansão internacional.
4. Lojas Quero-Quero (LJQQ3): A Força do Varejo no Interior do Brasil

Enquanto a maioria das grandes redes foca nos grandes centros urbanos, a Lojas Quero-Quero construiu seu império em cidades pequenas e médias do interior da região Sul, com um modelo de negócio único que combina varejo de material de construção, eletrodomésticos e móveis com serviços financeiros.
- Por que pode se recuperar? A empresa possui uma posição dominante em seu nicho geográfico, com menor concorrência direta. O agronegócio, forte no interior, confere uma resiliência maior à economia dessas regiões. Com a queda dos juros, tanto a venda de materiais de construção (financiamento de reformas) quanto a de bens duráveis são impulsionadas. Seu braço financeiro (Verdecard) também se beneficia enormemente do cenário.
- Pontos de Atenção: A expansão para novas regiões fora do Sul é o grande vetor de crescimento, mas também envolve riscos de execução. O desempenho do setor de construção civil e do agronegócio são variáveis importantes a serem monitoradas.
5. Vivara (VIVA3): O Brilho da Liderança em um Setor Resiliente

Líder absoluta no mercado de joias no Brasil, a Vivara atua em um segmento de luxo acessível que demonstrou notável resiliência.
- Por que pode se recuperar? A Vivara tem um modelo de negócio verticalizado, controlando desde o design e a fabricação até a venda final, o que garante margens mais altas. A empresa está em plena expansão com a marca Life by Vivara, focada em um público mais jovem. O mercado de joias é mais fragmentado e com menos concorrência de grandes players internacionais. Com a melhora da renda e da confiança, a compra de itens de desejo, como joias, tende a se beneficiar.
- Pontos de Atenção: Por ser um item de consumo discricionário, a Vivara ainda é sensível a crises econômicas muito severas. A execução de seu plano de expansão de lojas é um ponto chave a ser observado.
Como Investir e Diluir Riscos? A Estratégia Inteligente para o Varejo
Investir em ações de recuperação carrega um potencial de valorização maior, mas também um risco mais elevado. Portanto, uma abordagem inteligente é fundamental.
- Diversificação é a Chave: Nunca coloque todo o seu dinheiro em uma única ação. Considere montar uma cesta com 2 ou 3 das empresas mencionadas, de diferentes segmentos. Assim, se um subsetor não performar como o esperado, o outro pode compensar.
- Foco no Longo Prazo: A recuperação do varejo não acontecerá da noite para o dia. É um processo gradual que pode levar trimestres. O investidor precisa ter paciência e um horizonte de investimento de, pelo menos, 2 a 3 anos.
- Aportes Constantes: Em vez de tentar acertar o “fundo do poço”, faça aportes mensais ou trimestrais. Com essa estratégia de preço médio, você compra menos ações quando o preço está alto e mais ações quando o preço está baixo, diluindo o risco de entrada.
Uma Oportunidade de Compra para Investidores Pacientes

O setor de varejo brasileiro está em um ponto de inflexão. Após uma crise severa que separou as empresas bem geridas das que tinham problemas estruturais, 2025 se desenha como o ano do início da recuperação. Companhias como Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3), Grupo Soma (SOMA3), Lojas Quero-Quero (LJQQ3) e Vivara (VIVA3) representam teses de investimento robustas, cada uma com seus próprios gatilhos e nichos de mercado.
Para o investidor paciente, que entende os riscos e foca no longo prazo, o momento atual pode representar uma oportunidade histórica de comprar ações de empresas líderes em seus setores a preços que não se viam há muito tempo. A chave, como sempre, é a informação. Estude as empresas, acompanhe os resultados trimestrais e entenda como o cenário macroeconômico impacta seus investimentos. A virada de jogo na gôndola pode estar apenas começando.